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Notícia

Compostos presentes em frutas são utilizados para criar material capaz de conter hemorragias

03/01/2022
Cientistas da Unesp desenvolveram produto sustentável que poderá frear a perda de sangue em até um minuto e meio
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Material criado na Unesp poderá ser mais uma opção para o tratamento de hemorragias. Foto: Canva

Um biofilme anti-hemorrágico inédito produzido a partir de uma substância encontrada na casca de frutas, como maçã, laranja e limão, poderá revolucionar o tratamento de sangramentos, uma das principais causas de mortes em cirurgias em todo o mundo. A inovação, desenvolvida por pesquisadores da Unesp, em São José do Rio Preto, é de baixo custo e apresentou, nos primeiros testes realizados, ação superior às de agentes hemostáticos comerciais utilizados hoje em dia, mostrando potencial para conter hemorragias em até um minuto e meio através da formação de coágulos.

 

Capaz de absorver o sangue, o produto inovador conta com cálcio em sua composição, o que otimiza o processo de estancamento, além de ter como matéria prima a pectina, uma fibra que até hoje, na maioria dos casos, acaba indo para o lixo. Ou seja, além da novidade na área da saúde, a proposta do produto ainda é sustentável: “Podemos aproveitar uma biomassa que seria jogada fora. A indústria usa a fruta para fazer o suco e descarta o que pode ser matéria-prima barata para a área da saúde. A pectina está disponível em quantidade suficiente para que seu processo de industrialização seja economicamente viável, pois já é parte de uma biomassa abundante resultante do final de uma cadeia produtiva já fortemente estabelecida e inserida na economia brasileira e mundial”, afirma um dos criadores do material, o pesquisador Oscar Antonio Niño Santisteban, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas.

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Compostos presentes em frutas como laranja e limão possuem propriedades que facilitam o estancamento de sangramentos. Foto: Canva

De acordo com os responsáveis pela inovação, o biofilme é de fácil aplicação, seguro, maleável, resistente e atende a todos os padrões internacionais requisitados pelos órgãos de controle. Segundo o professor da Unesp José Geraldo Nery, orientador de Oscar, o fato do produto agregar valor à pectina pode baratear o desenvolvimento de materiais do gênero. Os estudos da ação hemostática dos novos agentes derivados de pectina foram realizados in vitro, avaliando o comportamento do material quando colocado em contato com células sanguíneas. “Fizemos análises avançadas, analisamos todos os parâmetros e possíveis impactos. Estamos usando pectina como agente anti-hemorrágico pela primeira vez no mundo e publicando artigos”, comenta o docente.

 

O professor José Geraldo Nery ressalta ainda que a inovação gera mais elasticidade no coágulo para que médicos possam intervir sem risco de estourar a cicatrização. Em uma cirurgia, dependendo do procedimento, as chances de ocorrer uma hemorragia variam de acordo com cada paciente e seu sistema de coagulação. Atualmente, para estancar um sangramento e controlar a pressão arterial para que o sangue continue fluindo, a medicina conta com diferentes tipos de dispositivos, muitos feitos com biopolímeros à base de Celulose e Quitosana, compostos encontrados em plantas e utilizados em diferentes áreas do conhecimento. “Esses materiais têm características e propriedades que facilitam o estancamento de uma hemorragia. Até hoje, a Quitosana é o melhor material hemostático testado e avaliado pelos Estados Unidos, com efetividade de 98%. Mas a Pectina pode superar este índice”, avalia.

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Nova tecnologia é segura, maleável, resistente, de fácil aplicação e sustentável. Foto: Oscar Santisteban

Problema recorrente - As complicações hemorrágicas continuam a ser uma das principais causas de morte em todo o mundo. Por conta disso, o desenvolvimento de métodos eficazes para o tratamento de sangramentos tornou-se prioridade nos últimos anos. De acordo com Oscar, os problemas de perda de sangue ocorrem majoritariamente em cirurgias, mas também podem acontecer após acidentes. “Nem sempre a causa da morte é registrada como hemorragia, já que o motivo principal pode ser uma doença ou um acidente. De qualquer maneira, a perda do líquido vital, que é o sangue, é fatal. Sem ele não é possível continuar vivendo”, lembra.

 

O pesquisador explica que o estancamento da hemorragia ocorre a partir da ação de várias enzimas em um processo bastante complexo. "O cálcio presente em nosso produto tem um componente que agiliza a coagulação de forma natural devido a suas propriedades. O agente hemostático acelera esse processo. Em qualquer tecido, basta colocar o biofilme em cima da região afetada, como se fosse um curativo”, destaca o cientista, que há quase quatro anos pesquisa o novo material com o apoio de estudantes de iniciação científica.

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Figura ilustra a interação do biomaterial com o sangue humano. Foto: Oscar Santisteban

O grupo de pesquisa dos especialistas trabalha atualmente no aprimoramento dos estudos sobre o processo de cicatrização a partir da nova tecnologia, mas o agente hemostático já foi patenteado pela Agência Unesp de Inovação (AUIN) e, segundo os criadores do produto, o material já pode ser reproduzido. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o trabalho segue em desenvolvimento com os cientistas em busca de empresas parceiras para realizar testes em animais e, em seguida, testes clínicos com seres humanos. Com investimento, em meses seria possível ter a inovação no mercado.

 

Sobre a AUIN - A Agência Unesp de Inovação realiza estudos de viabilidade das invenções dos pesquisadores da Universidade, atua na proteção do patrimônio intelectual e nos trâmites necessários para gestão de patentes. Assim, o órgão é responsável por negociar parcerias e transferir tecnologia da universidade para os setores empresariais e sociais por meio de licenciamentos.

 

A AUIN também incentiva e apoia o empreendedorismo universitário, estimulando a criação de novos os negócios, empresas filhas, startups e spin-offs, além de produtos, serviços e soluções que em seu processo de construção e execução possam beneficiar tanto a Unesp como a sociedade. Se você deseja comunicar sua invenção e solicitar um pedido de patente, bem como conhecer todos os detalhes sobre o trabalho da Agência, acesse o site da entidade clicando neste link.

 

 

Por Eduardo Sotto Mayor, da Fontes Comunicação Científica, para a AUIN