Tecnologias criadas pela Unesp promovem mais segurança para o público infantil. Foto: Envato
Com o auxílio da nanotecnologia, pesquisadores da Unesp desenvolveram cremes dentais, géis clareadores e enxaguantes bucais mais acessíveis, eficientes e seguros, especialmente para o público infantil. As inovações, protegidas por um pacote de três patentes, propõem fórmulas com menor concentração de flúor capazes de aumentar a segurança e efetividade tanto na proteção como no reparo de lesões iniciais de cárie, oferecendo alternativas mais eficazes e seguras para a saúde bucal de crianças e adultos.
As invenções foram desenvolvidas pelo grupo do professor Alberto Carlos Botazzo Delbem, diretor da Faculdade de Odontologia de Araçatuba (FOA), e contaram com apoio da Agência Unesp de Inovação (AIUN) na negociação de parcerias com empresas para transferência de tecnologia. Segundo o docente, a motivação original do projeto partiu da preocupação com os efeitos adversos do flúor em crianças pequenas, que tendem a engolir o creme dental durante a escovação. “A ingestão excessiva de flúor pode causar fluorose dental — manchas que surgem nos dentes durante a formação do esmalte. Para contornar esse problema, nossa equipe desenvolveu fórmulas com concentrações reduzidas de flúor (500 ou até 250 ppm), suplementadas com fosfatos e cálcio que mantêm a eficácia anticárie do produto”, explica o especialista.
Produtos deram origem a três patentes que foram registradas com apoio da AUIN. Foto: Alberto Delbem
A cárie dentária e a erosão dos dentes são problemas comuns e complexos, influenciados por diversos fatores — desde a higiene e alimentação até a qualidade da saliva e a presença de flúor. Embora o flúor seja amplamente reconhecido como um agente eficaz na prevenção da cárie, ele atua principalmente na superfície dos dentes, deixando regiões internas menos protegidas. Com isso, pesquisadores e a indústria vêm desenvolvendo alternativas para potencializar sua ação e melhorar os resultados de tratamentos preventivos e terapêuticos. Segundo Delbem, a combinação do flúor com os fosfatos apresentados nas novas patentes não apenas previne a desmineralização do esmalte dental, mas também promove a remineralização de áreas mais profundas em lesões — algo que o flúor isoladamente não consegue fazer. “Esse é o pulo do gato”, reforça.
Os produtos desenvolvidos passaram por uma rigorosa fase de testes laboratoriais, que analisou a interação com os tecidos dentários e sua ação contra cárie, erosão, hipersensibilidade dentária e danos à polpa durante o clareamento. A partir desses estudos, foi possível verificar a segurança e o potencial protetor das formulações em diferentes condições clínicas.
Após essa etapa, os produtos foram avaliados em estudos pré-clínicos com um grupo reduzido de pacientes, permitindo observar seus efeitos sobre o esmalte, a dentina e a placa bacteriana, além de monitorar eventuais reações adversas. Com base nesses resultados, foram conduzidos ensaios clínicos mais amplos com crianças e adolescentes, incluindo um estudo com 600 crianças para testar cremes dentais e dois estudos com 1000 participantes que analisaram o uso de vernizes aplicados em consultório.
Composição de baixa toxicidade com fosfato e cálcio
Uma das invenções do grupo de Alberto Delbem tem como principal objetivo oferecer alternativas mais seguras ao uso tradicional de flúor, especialmente para crianças pequenas, que correm mais risco de ingerir cremes dentais durante a escovação. “Crianças menores de seis anos são as mais vulneráveis, pois tendem a engolir parte do produto durante a escovação ou aplicações no consultório. A ingestão crônica de flúor em excesso pode levar ao desenvolvimento de fluorose dentária, uma condição caracterizada por manchas permanentes no esmalte dos dentes”, explica. A nova composição pode ser utilizada tanto em ambientes clínicos, com aplicação de um profissional, quanto em casa, por meio de produtos de uso diário.
Diversos experimentos foram realizados em laboratório para atestar a eficácia dos novos materiais. Foto: Alberto Delmbem
Nanotecnologia como aliada da saúde bucal
Outra patente desenvolvida, em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), apresenta uma composição odontológica baseada na chamada tecnologia “R3”, que combina diferentes compostos como ciclofosfatos, fluoretos e açúcares-álcoois, que induzem a remineralização profunda dos dentes, protegendo contra cáries, erosão, sensibilidade, doenças periodontais e até mau hálito. A tecnologia R3 oferece ainda vantagens econômicas e logísticas: os componentes não reagem entre si, o que garante maior estabilidade, elimina a necessidade de embalagens especiais e mantém o custo de produção acessível.
Ao contrário dos cremes dentais comuns, que usam certos tipos de cálcio que se dissolvem facilmente e podem formar uma camada dura só na parte de fora do dente, a tecnologia R3 evita esse problema. “Essa camada externa pode impedir que os minerais cheguem até as partes mais profundas do dente, onde também são necessários. A nova fórmula permite que os ingredientes façam efeito de forma mais equilibrada e eficiente", esclarece o professor. Além disso, ela pode ser adaptada para diferentes públicos — desde bebês, com produtos mais suaves, até profissionais da odontologia, com produtos mais potentes como espumas e vernizes.
A nova fórmula desenvolvida pelo grupo do professor Alberto Delbem permite a versatilidade do uso tanto em consultório como doméstico. | Foto: Envato
Clareamento dental com menos sensibilidade
Os pesquisadores também desenvolveram um produto que associa agentes clareadores com substâncias capazes de proteger o esmalte dos dentes contra a perda de minerais, um dos efeitos colaterais mais comuns de tratamentos estéticos. “O produto patenteado é uma composição que combina entre 6% e 38% de peróxido de hidrogênio (água oxigenada) ou peróxido de carbamida, que são os clareadores mais comuns, com agentes anti-desmineralizantes, como o trimetafosfato de sódio (TMP), o hexametafosfato de sódio (HMP) e o glicerofosfato de cálcio”, apresenta Delbem. Esses compostos ajudam a proteger o esmalte durante o processo de clareamento, que normalmente deixa os dentes mais porosos, sensíveis e suscetíveis a danos.
Outro diferencial da invenção é a possibilidade de ajustar as concentrações dos ingredientes ativos com a água ou gel de base para diferentes finalidades clínicas, mantendo a eficácia do clareamento e diminuindo os riscos de efeitos colaterais.
Os produtos desenvolvidos na Unesp já foram adquiridos por uma empresa, que será a responsável por disponibilizá-los no mercado.
Pesquisadores da Unesp Araçatuba desenvolveram tecnologias inovadoras para higiene bucal. | Foto: Envato
Por Clara Marques, da Fontes Comunicação Científica
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