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Notícia

Biomaterial pode tratar incontinência urinária de mães que desenvolvem diabetes na gestação

18/10/2021
Tecnologia desenvolvida na Unesp pretende proporcionar mais qualidade de vida às mulheres que sofrem com a disfunção por anos após darem à luz

Pesquisadores da Unesp desenvolveram uma nova tecnologia feita com borracha natural (látex) e células-tronco que poderá revolucionar o tratamento e a prevenção contra incontinência urinária em mulheres que desenvolvem diabetes na gestação, condição que favorece a atrofia dos músculos da região pélvica, dificultando sua contração. De baixo custo, fácil manuseio e produzido com matéria prima brasileira, o biomaterial é capaz de regenerar a parte afetada sem causar dor ou demandar sessões de fisioterapia. Testes realizados com animais mostraram que o produto é eficaz e não gera efeitos tóxicos. 

A tecnologia, que poderá ser introduzida durante a própria cesárea, é uma membrana que funciona como uma rede para guardar as células-tronco. Após ser inserido na paciente e entrar em contato com os músculos da região pélvica, o material passa a liberar aos poucos proteínas bioativas presentes no látex que, em conjunto com as células-tronco, auxiliam na recuperação do tecido e resgatam sua funcionalidade. “O material oferece condições para que as células ali colocadas se proliferem sem que elas migrem para outros locais do organismo. Como a borracha custa barato, a tecnologia desenvolvida é acessível e tem um alto potencial de ser aplicada”, explica Juliana Floriano, pós-doutoranda da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, e uma das responsáveis pela inovação.  

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Biomaterial feito com látex e células-tronco poderá ser implantado durante a própria cesárea. Foto: Juliana Floriano

Para atender as mulheres que realizam parto normal, a cientista desenvolveu uma “segunda versão” do produto, um dispositivo vaginal que pode ser introduzido pela própria gestante sem causar desconforto. A diferença é que, ao invés de possuir células-tronco, o dispositivo de látex apenas libera proteínas que atraem esse tipo de célula regenerativa para o local que precisa ser tratado. “Mulheres que não forem para a cesárea e tenham incontinência urinária podem usar esse segundo produto que nós desenvolvemos, que é um dispositivo que a própria paciente insere. Ela mesma coloca e ela mesma remove 10 dias depois”, destaca Juliana. As proteínas liberadas pelo material emitem um sinal, como se fosse uma inflamação, atraindo as células-tronco que saem da medula óssea, passam pelos vasos sanguíneos e chegam até os tecidos. Essas células, por sua vez, também emitem sinais que ativam as células-tronco musculares (satélites), que se proliferam e constroem novas fibras saudáveis que recuperam a função da musculatura.
  

“Não precisa de cirurgia e não dói nada. Esse dispositivo vaginal, desenvolvido em parceria com pesquisadores dos Estados Unidos, possui grande biodisponibilidade em todos os músculos e órgãos importantes para a continência urinária: uretra, bexiga e assoalho pélvico. Ou seja, além de regenerar, ele também poderá atuar na prevenção, já que a mulher também pode desenvolver incontinência urinária após o parto”, comemora a pesquisadora. De acordo com registros médicos, muitas pacientes podem sofrer desse tipo de problema por até dois anos após darem à luz, já que ainda não há um tratamento efetivo, mas sim paliativo.  

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Gestantes diabéticas que optarem pelo parto normal poderão utilizar dispositivo vaginal indolor. Foto: Juliana Floriano

“Muitas puérperas procuram por fisioterapia ou cirurgia, mas nem a operação é garantia de que a questão será resolvida. 30% voltam a apresentar o distúrbio, já que o tratamento é muito complexo. Elas ficam constrangidas, muitas deixam o mercado de trabalho, além de elevar muito os custos em saúde pública”, relata Juliana, que também é mãe. Embora não tenha sofrido com o problema, a empatia por outras mulheres a fez começar a pensar em tratamentos cada vez mais confortáveis e indolores para as pacientes. “Quero propiciar terapias práticas e seguras para as mulheres que passaram por parto normal ou cesárea”, revela. 

Juliana, que também é pesquisadora honorária do Imperial College London, na Inglaterra, conta que as invenções foram testadas em ratas diabéticas gestantes com miopatia muscular com a ajuda de um modelo experimental que reproduziu nas roedoras o mesmo problema encontrado nas mulheres. As fêmeas tiveram os produtos introduzidos e passaram a ser acompanhadas pelos pesquisadores. Os resultados foram animadores: em apenas dois meses, a musculatura da região pélvica dos animais já havia sido recuperada, respondendo normalmente a estímulos elétricos induzidos pelos cientistas. Além disso, nenhum tipo de efeito tóxico foi observado nas roedoras. “A nossa surpresa foi muito grande quando olhamos para as análises. Ficamos realmente entusiasmados, sem dúvida é um resultado muito promissor”, comemora a especialista.  

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Imagem microscópica mostra células aderidas à biomembrana. Foto: Juliana Floriano 

As duas novas tecnologias, já patenteadas pela Agência Unesp de Inovação (AUIN), poderão mudar a vida de milhares de mulheres com diabetes gestacional, caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose no sangue durante a gravidez. O problema é capaz de desencadear uma série de complicações à saúde da paciente, como prejuízos aos rins, hipertensão e, principalmente, a incontinência urinária já durante a gestação, causada por uma miopatia no assoalho pélvico e nos músculos retos abdominais. Essa atrofia muscular provoca várias alterações, entre elas, a diminuição de fibras, o que causa a perda da capacidade de contração. 

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Tecnologias poderão mudar a vida de milhares de mulheres com diabetes gestacional. Foto: Canva

Matéria-prima nacional - A borracha natural, também chamada de látex, é um produto extraído da seringueira - árvore brasileira originária do Rio Amazonas, considerada muito especial pelos cientistas. O professor Carlos Frederico de Oliveira Graeff, docente do Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Unesp, em Bauru, e orientador dos estudos que resultaram nas tecnologias, esclarece que a principal função do látex na natureza é a regeneração vegetal. “Quando é feito um corte em um tronco, a função do látex é recuperar aquela árvore. No organismo humano, esse material é estável, compatível e apresenta características próprias que promovem por si só o crescimento de vasos sanguíneos, o que é fundamental para o reparo de tecidos. Nós buscamos o caminho mais natural possível para induzir o corpo humano a fazer aquilo que ele poderia fazer sozinho”, descreve. 

A pesquisa foi desenvolvida a partir de seringueiras cultivadas na Fazenda Experimental da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, em Botucatu, e contou com especialistas de diferentes áreas, como biólogos, engenheiros florestais, físicos, químicos, entre outros. Para criar a membrana, foi preciso elaborar um novo método de extração da borracha, com uma série de cuidados e tratamentos específicos, sem aditivos químicos. Para que o líquido não coagulasse, como geralmente acontece quando ele é retirado da árvore, o material foi extraído em baixa temperatura e depois passou por uma centrifugação para remover possíveis impurezas coletadas durante o processo. Em seguida, uma camada fina de látex foi depositada em uma placa, formando membranas que secam por sete dias em uma estufa a 50°C. “Fizemos testes de toxicidade e biocompatibilidade. O risco do corpo rejeitar o material é muito pequeno”, ressalta o professor. 

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Extraído da Seringueira, o látex contribui para o crescimento de vasos sanguíneos no corpo humano, o que é fundamental para o reparo de tecidos. Foto: Canva

Agora, os cientistas buscam empresas parceiras, sejam do Brasil ou do exterior, que possam colaborar com o início de testes clínicos, nos quais o material deverá ser aplicado diretamente em seres humanos. “São anos de estudos, porém ainda temos um bom caminho a ser percorrido. É um processo lento, mas vamos vencer as barreiras. Queremos fazer com que esses tratamentos cheguem ao mercado”, conclui o professor Graeff. O desenvolvimento das inovações contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). 

Sobre a AUIN - A Agência Unesp de Inovação realiza estudos de viabilidade das invenções dos pesquisadores da Universidade, atua na proteção do patrimônio intelectual e nos trâmites necessários para gestão de patentes. Assim, o órgão é responsável por negociar parcerias e transferir tecnologia da universidade para os setores empresariais e sociais por meio de licenciamentos. 

A AUIN também incentiva e apoia o empreendedorismo universitário, estimulando a criação de novos os negócios, empresas filhas, startups e spin-offs, além de produtos, serviços e soluções que em seu processo de construção e execução possam beneficiar tanto a Unesp como a sociedade. Se você deseja comunicar sua invenção e solicitar um pedido de patente, bem como conhecer todos os detalhes sobre o trabalho da Agência, acesse o site da entidade clicando neste link

 

 

Por Eduardo Sotto Mayor e Henrique Fontes, da Fontes Comunicação Científica, para a Agência Unesp de Inovação 

 


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