Cientistas esperam ampliar o acesso da população a procedimentos odontológicos. Foto: Canva
Pesquisadores da Unesp desenvolveram dois novos materiais capazes de otimizar procedimentos odontológicos, como o tratamento de cáries e a realização de obturações. Os produtos são constituídos de um pó a base de ciclofosfato de sódio e de uma solução que pode conter nanopartículas de quitosana ou óxido de titânio. Compatíveis com o corpo humano, as inovações têm o aspecto de uma pasta e podem ser aplicadas para proteger a região a ser tratada de contaminantes, como bactérias, e induzir a recuperação da polpa do dente (parte interna). Fáceis de serem manuseadas pelos profissionais, as tecnologias podem diminuir custos, ampliar o acesso a dentistas e melhorar a qualidade de vida de toda a população. Os produtos já foram patenteados pela Agência Unesp de Inovação (AUIN).
Para o professor Alberto Carlos Botazzo Delbem, docente da Faculdade de Odontologia da Unesp, em Araçatuba, o grande diferencial da pasta desenvolvida (cimento odontológico) está em sua fácil aplicação, versatilidade e baixo custo, o que pode proporcionar grande inserção social. “É um material com várias vantagens em relação aos outros disponíveis hoje em dia, é de alta qualidade e foi criado dentro das normas internacionais. Ele tem alta versatilidade para os diferentes tipos de procedimentos que envolvem o tratamento da polpa do dente, inclusive quando utilizado em crianças. Além disso, por ser mais acessível, esse novo produto pode baratear os custos dos serviços públicos”, ressalta Alberto, que estuda os fatores que provocam a cárie e atua no desenvolvimento de produtos para os cuidados com a higiene bucal.
Produtos desenvolvidos na Unesp são versáteis e de fácil manuseio. Foto: Cedida pelos pesquisadores
De acordo com João Carlos Silos Moraes, professor do Departamento de Física e Química da Unesp, em Ilha Solteira, e um dos integrantes do estudo, apesar de existirem bons materiais no mercado à disposição dos profissionais, ainda não há um produto que atenda todas as características exigidas em cada tipo de aplicação. “Como exemplo, um dos produtos mais conhecidos e utilizados para a retro-obturação de canal é o MTA (mineral trioxide aggregate). Contudo, ele tem algumas desvantagens como alto custo, tempo de cura longo e difícil manuseio. Além dos nossos produtos poderem ser vendidos por um preço bem menor, quando as partes que compõem os cimentos que desenvolvemos são misturadas em proporções adequadas, gera uma pasta de fácil manuseio, com tempo de cura adequado para determinada aplicação e com propriedades antibacterianas”, garante o docente.
Problema nacional - Quando o assunto é cárie, o Brasil ainda apresenta médias distantes daquelas consideradas positivas pelas principais organizações da área. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, apenas 46,6% das crianças de 5 anos e 0,9% dos adultos de 35 a 44 anos não têm cárie no país, o que indica um problema de saúde pública. Formada a partir de bactérias, que ao entrarem em contato com restos de comida, principalmente açúcar, produzem um ácido que corrói os dentes até quebrá-los, a doença causada normalmente pela má higiene bucal não deve ser tratada como um problema comum com o qual as pessoas podem conviver. Em estágio avançado, a cárie pode danificar o esmalte e a dentina, além comprometer ou deixar a polpa do dente exposta, assim como todo o canal dentário, facilitando que microrganismos cheguem até a corrente sanguínea e coloquem em risco a vida do paciente.
As cáries afetam grande parte da população brasileira. Foto: Canva
Para que o problema não se agrave, é necessário fazer um tratamento de canal, no qual a polpa do dente infeccionado, danificada ou morta, é removida. Um dos produtos desenvolvidos pelos pesquisadores da Unesp pode ser utilizado para preencher o canal após o procedimento e evitar infecções. “São duas substâncias com consistências diferentes, mas propriedades muito parecidas'', explica João Carlos. Os cientistas estudam os compostos há cerca de uma década e durante o desenvolvimento das tecnologias contaram com a participação de mestrandos, doutorandos e pesquisadores do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Os estudos continuam e os inventores buscam parceiros na Indústria Farmacêutica para levar o produto ao mercado. O trabalho contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Sobre a AUIN - A Agência Unesp de Inovação realiza estudos de viabilidade das invenções dos pesquisadores da Universidade, atua na proteção do patrimônio intelectual e nos trâmites necessários para gestão de patentes. Assim, o órgão é responsável por negociar parcerias e transferir tecnologia da universidade para os setores empresariais e sociais por meio de licenciamentos.
A AUIN também incentiva e apoia o empreendedorismo universitário, estimulando a criação de novos os negócios, empresas filhas, startups e spin-offs, além de produtos, serviços e soluções que em seu processo de construção e execução possam beneficiar tanto a Unesp como a sociedade. Se você deseja comunicar sua invenção e solicitar um pedido de patente, bem como conhecer todos os detalhes sobre o trabalho da Agência, acesse o site da entidade clicando neste link.
Por Eduardo Sotto Mayor, da Fontes Comunicação Científica, para a AUIN