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Inclusão: Unesp cria dedeira que facilita a higienização bucal de pessoas com deficiência

31/01/2022
Além de garantir mais conforto para os pacientes, a invenção protege seus cuidadores de serem mordidos durante a escovação dos dentes; o acessório é fruto de uma pesquisa de mestrado e já foi patenteado

Pesquisadores da Unesp, em São José dos Campos (SP), desenvolveram um acessório odontológico capaz de facilitar a higienização bucal de pessoas com deficiência. A dedeira, como foi nomeada, é a primeira invenção que possibilita, de forma segura e confortável, manter aberta a boca de pessoas com dificuldades motoras, como é o caso de pacientes com Alzheimer, Parkinson ou paralisia cerebral. Inicialmente pensada para uso doméstico, a inovação evita que os cuidadores ou os responsáveis desses pacientes sejam mordidos durante a escovação de seus dentes. Além disso, a tecnologia garante maior conforto do que objetos que são utilizados de maneira improvisada atualmente para a abertura da boca, como palitos de sorvete enrolados em gaze, por exemplo.


O equipamento, que foi patenteado com apoio da Agência Unesp de Inovação (AUIN), é feito de plástico e foi fabricado em impressora 3D por meio de uma parceria com o Parque Tecnológico de São José dos Campos. De fácil produção e baixo custo, a dedeira tem alta viabilidade industrial e está em fase de captação de parceiros para a produção em larga escala. A nova tecnologia foi desenvolvida durante uma pesquisa de mestrado profissional da cirurgiã-dentista Camile Martins, no Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT), com orientação do professor de materiais dentários da Unesp, Rubens Tango, e coorientação do odontopediatra João Carlos da Rocha, que possui mais de 32 anos de atuação na Universidade. 

Segundo os pesquisadores, o grande diferencial da dedeira está na estabilidade que ela garante na hora de conter a abertura da boca. “Atualmente, existe um modelo no mercado que a gente chama de abridor de boca. É um objeto de borracha em formato de trapézio, mas esse apetrecho sai do lugar e se desprende. Inclusive, é costume amarrar um fio dental para evitar que o paciente o engula”, explica Camile. De acordo com o professor Rocha, tudo o que é colocado dentro da cavidade bucal de uma criança ou de uma pessoa com deficiência gera algum risco de ser engolido, mas com o novo produto desenvolvido na Unesp, não haverá mais essa preocupação: “A dedeira não tem esse problema porque quem controla tudo é a pessoa que está com o equipamento, e não tem como ele escapar do dedo”, completa.

 

Para criar o acessório, os pesquisadores mediram os dedos de algumas pessoas para determinar um tamanho médio e realizaram algumas adaptações na curvatura e no formato da dedeira. Ao todo, foram quatro protótipos desenvolvidos, sendo que o último foi levado para testes no Núcleo de Estudo e Atendimento a Pacientes Especiais (NEAPE), coordenado pelo professor Rocha. “Nós testamos se os pacientes estavam confortáveis e se a estabilização era adequada. A gente pode até pensar que é fácil de utilizar, mas na aplicação talvez não seja”, explica Tango. Um desses testes foi realizado na voluntária Bruna, que tem paralisia cerebral. Ela foi escolhida para participar da avaliação porque, devido à deficiência, seus movimentos eram involuntários e fortes, o que contribuiu para atestar o funcionamento do aparelho. “A mãe nunca tinha conseguido fazer uma higienização na filha de forma satisfatória e ela ficou encantada quando conseguiu fazer pela primeira vez”, revela Rocha.

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Um dos testes com a nova tecnologia foi realizado com a voluntária Bruna, que tem paralisia cerebral. Foto: Camile Martins

Os testes também demonstraram a segurança do material em relação à proteção dos cuidadores, uma vez que a dedeira evitou que eles fossem machucados. O paciente continua mordendo, mas neste caso ele morde uma trava que não deixa a dedeira escorregar para dentro ou fora da boca. “As pessoas, às vezes, não têm ideia, mas os pacientes especiais são muito fortes”, afirma Tango. Segundo os cientistas, uma mordida desses pacientes pode chegar a 45 kg. “Então, o desenho foi considerado para a segurança de quem veste a dedeira e a segurança do paciente especial”, completa Camile. Outro diferencial do produto, de acordo com Tango, é a possibilidade da mão do cuidador ficar livre para controlar a cabeça do paciente, ao contrário de um outro aparelho adaptado disponível no mercado que é um bastão emborrachado que possui uma haste maior, na qual a pessoa precisa segurar com a mão inteira. 

 

Prevenção - Uma má higienização bucal pode causar desde cáries, problemas nos canais dentários e até desencadear consequências mais graves, como infecções bacterianas nos tecidos, ligamentos e ossos que sustentam os dentes. Quando se trata de pacientes com deficiência, esses problemas podem aparecer com ainda mais facilidade, já que o uso de medicamentos específicos, como anticonvulsivos, podem causar complicações bucais como efeitos colaterais. Com o uso da dedeira, seria possível minimizar esses problemas e, consequentemente, promover mais qualidade de vida para os pacientes. “Se eles precisam fazer a extração de um dente, por exemplo, eles sofrem demais, porque às vezes é necessário encaminhá-los para um centro cirúrgico, já que em um ambulatório não é possível realizar o procedimento. Isso significa muito mais gastos e mais perigo aos pacientes pelo fato deles terem comorbidades. Eventualmente você precisa fazer uma anestesia geral e pode colocar a vida deles em risco. Na odontologia você precisa prevenir”, relata Rocha.

 

Apesar de ter um foco em cuidadores e pacientes com deficiência, para os pesquisadores a dedeira vai além, podendo ser utilizada em crianças pequenas que não aceitam a escovação ou idosos acamados. “O objetivo realmente é que ela possa ser usada em ambientes domésticos porque esse público não tem acesso a esses acessórios que usamos na clínica. Então, a intenção é que a dedeira seja vendida lá na farmácia, nas prateleiras comuns”, enfatiza Camile. Para Rocha, o momento de levar a invenção para o mercado é agora, pois com a pandemia, essa população ficou desassistida. “Nós, profissionais da saúde, pesquisadores e a própria indústria, temos que procurar sempre que possível focar nesses pacientes, eles precisam de novas tecnologias para facilitar e melhorar sua qualidade de vida. Isto é fundamental para que a gente realmente possa ter uma sociedade igualitária”, conclui.

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Acessório foi fabricado em impressora 3D por meio de uma parceria com o Parque Tecnológico de São José dos Campos. Foto: Camile Martins

Sobre a AUIN - A Agência Unesp de Inovação realiza estudos de viabilidade das invenções dos pesquisadores da Universidade, atua na proteção do patrimônio intelectual e nos trâmites necessários para gestão de patentes. Assim, o órgão é responsável por negociar parcerias e transferir tecnologia da universidade para os setores empresariais e sociais por meio de licenciamentos.

 

A AUIN também incentiva e apoia o empreendedorismo universitário, estimulando a criação de novos os negócios, empresas filhas, startups e spin-offs, além de produtos, serviços e soluções que em seu processo de construção e execução possam beneficiar tanto a Unesp como a sociedade. Se você deseja comunicar sua invenção e solicitar um pedido de patente, bem como conhecer todos os detalhes sobre o trabalho da Agência, acesse o site da entidade clicando neste link.

 

Por Rebecca Crepaldi

 

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