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Notícia

Programa de Melhoramento Genético: pesquisadores da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp atuam no desenvolvimento de novas cultivares

11/06/2024
O Laboratório de Melhoramento de Plantas Agrícolas e Florestais da FCA está à frente de projetos que visam desenvolver cultivares adaptadas às condições climáticas do Estado, com maior resistência genética, produtividade e impacto ambiental reduzido

Bruna de Mello Franco

bruna.franco@unesp.br

 

Luís Guilherme Fernandes

luis.g.fernandes@unesp.br

 

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A Faculdade de Ciências Agrárias (FCA), unidade da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) em Botucatu, é conhecida pelas diversas atividades e pesquisas desenvolvidas na área. As cultivares de batata-doce "Unesp Maria Eduarda", "Unesp Maria Isabel" e "Unesp Maria Rita", fruto da colaboração entre o campus de Botucatu e o de Registro, são exemplos. Alguns pesquisadores, contudo, desejam ir além. 

 

A Profa. Dra. Maria Paula Nunes e o Prof. Dr. Evandro Tambarussi, ambos do Departamento de Produção e Melhoramento Vegetal da FCA, falaram sobre seus projetos no que se refere ao melhoramento de genótipos do feijão comum (Phaseolus vulgaris L.), o amendoim (Arachis hypogaea L.) e os eucaliptos (Eucalyptus sp.Corymbia sp.). Com o intuito de posicionar a unidade como referência no desenvolvimento de novas variedades, os pesquisadores buscam reverter a lacuna gerada pela ausência de docentes na área de melhoramento genético por um extenso período.

 

Sobre a pesquisa de melhoramento genético

 

Desenvolver novas cultivares é um desafio complexo, que perpassa pelo entendimento das necessidades da sociedade e do mercado no que se refere às mais diversas produções. “A nossa meta é o desenvolvimento de genótipos resistentes, produtivos e sustentáveis”, conta a professora Maria Paula. “Para isso, é primordial a definição dos objetivos a serem alcançados baseados nas principais demandas do mercado bem como no conhecimento das principais pragas, patógenos e condições ambientais para as quais a nova cultivar será destinada”.

 

Uma vez que as necessidades e objetivos foram definidos, é possível avançar para as próximas etapas. “Saber o local em que o vegetal será cultivado é importante, pois as condições ambientais, bem como os patógenos que podem acometer a planta, variam de acordo com a região. Nos casos de desenvolvimento de genótipos resistentes a patógenos específicos, é também muito importante conhecer o padrão de interação patógeno x hospedeiro, o que faz com que estudos sobre o patógeno, a fisiologia vegetal, a botânica, a genética, o solo e o ambiente sejam imprescindíveis” explica a professora.

 

O trabalho prático no melhoramento genético se inicia com a criação de um banco de germoplasma. Nesta etapa, coleções de materiais vegetais são reunidas, catalogadas e conservadas. Este banco funciona como uma reserva de recursos genéticos, fornecendo os genes necessários para os programas de melhoramento.

 

“Em seguida, o material genético reunido no banco de germoplasma é estudado, resultando na caracterização do banco. A partir disso, cruzamentos artificiais são conduzidos, com o intuito de promover variabilidade genética a ser explorada no processo de obtenção de plantas com as características desejadas. Estas etapas, realizadas em casa de vegetação, campo e em pomares de hibridação, fazem parte dos esforços para a criação de um fluxo de pesquisa que permita o desenvolvimento de genótipos de interesse” complementa o professor Evandro.

 

O trabalho de melhoramento genético é um processo complexo, multidisciplinar e demorado. Este fato se deve à natureza ostensiva das pesquisas e dos estudos que precisam ser realizados, bem como da dependência dos ciclos de desenvolvimento particular de cada espécie vegetal, seja ela de natureza agrícola ou florestal, já que as observações precisam ser feitas em diversos estágios de desenvolvimento da planta, em diferentes locais e por várias gerações. No caso de cultivares florestais, o processo se estende ainda mais, já que o amadurecimento de árvores é ainda mais demorado.

 

O trabalho desenvolvido na FCA e a sua relevância para o mercado

 

As pesquisas de melhoramento genético conduzidas pelos professores da Unesp buscam obter cultivares de espécies agrícolas e florestais, atendendo às necessidades do mercado regional. A professora Maria Paula, responsável por coordenar os estudos para o desenvolvimento das espécies agrícolas, comenta sobre as atividades relacionadas aos projetos de feijão e amendoim, alvos da pesquisa: “Nosso principal objetivo é a resistência genética à doenças. No feijão comum (P. vulgaris L.), o foco é a resistência à antracnose, principal doença fúngica causada pelo Colletotrichum lindemuthianum”.

 

O feijão comum é considerado a leguminosa de maior importância na dieta humana, por ser uma fonte vegetal rica em nutrientes como proteínas, fibras, ferro, carboidratos, vitaminas e minerais. É uma planta de alta relevância e produção global, mas que sofre com os impactos da antracnose. Portanto, obter cultivares resistentes à doença, que é capaz de causar perdas totais da produção, é de vital importância para os produtores do estado de São Paulo.

 

“Já no caso do amendoim (A. hypogaea L.), o objetivo é, por meio do estudo das populações fitopatogênicas, identificar fontes de resistência genética aos principais patótipos causadores de manchas foliares e responsáveis por causar o desfolhamento severo das plantas. Dentre os tipos da doença observados, tem-se as manchas castanhas, causadas pelo fungo Cercospora arachidicola, e as manchas pretas, causadas pelo fungo Cercosporidium personatum. Além do desfolhamento, ambas as doenças causam a redução da resistência de estruturas da planta, impactando negativamente no rendimento e na qualidade do amendoim”, continua a professora. Assim como o feijão, o amendoim é uma planta de relevância global, seja para a produção de óleo ou como commodity. Os resultados das pesquisas desempenharão um papel importante na promoção de sistemas agrícolas sustentáveis e produtivos.

 

No que se refere às pesquisas de cultivares florestais, coordenadas pelo professor Evandro, o foco de atuação é o eucalipto (Eucalyptus Sp. e Corymbia Sp.). “A FCA já possui um pomar estruturado para a hibridação de eucaliptos, fruto da tradição da unidade na área, e nós já estamos realizando testes com quatro espécies dos gêneros”, comenta o professor. Árvores do gênero Eucalyptus e Corymbia são conhecidas pela sua capacidade de crescer rapidamente, se adaptando a diferentes condições ambientais.

 

No cenário nacional, o eucalipto é a espécie dominante na produção de biomassa, devido à versatilidade do uso da madeira. “Se tratando de uma planta já amplamente explorada, estamos desenvolvendo pesquisas para obter cultivares ainda mais estratégicos para o mercado. Isso significa principalmente obter variedades com alto teor de celulose, mas testando também para outras aplicações, como para a produção de carvão e chapas, e visualizando também futuras aplicações na produção de óleos e tolerância ao déficit hídrico”, complementa o professor. Além da obtenção das novas cultivares, os professores olham com otimismo para o envolvimento de alunos de graduação e pós-graduação nos estudos.

 

Atualmente, o Laboratório de Melhoramento de Plantas Agrícolas e Florestais conta com cerca de 30 estudantes, dos mais diferentes níveis acadêmicos. “Devido à diversidade das frentes de pesquisa dentro de um programa de melhoramento, é muito importante contar com profissionais e alunos para trabalhar em cada subprojeto. Além de gerar conhecimento científico em cada etapa, há no Brasil e no mundo uma alta demanda de melhoristas. Estes programas de melhoramento genético, portanto, são muito importantes para a formação e o treinamento de profissionais qualificados. Trata-se de uma necessidade atual e relevante não só para a academia, mas para o mercado de trabalho”, comenta Nunes.

 

Nos estados preliminares de pesquisa, que se trata de um processo lento e de esforço contínuo, os professores julgam estar no caminho certo. Além do impacto direto e indireto no mercado, os professores Maria Paula Nunes e Evandro Tambarussi, salientam a importância do constante processo de otimização da área de melhoramento genético na FCA, buscando parcerias entre as unidades da Unesp, empresas e demais pesquisadores interessados.

 

Nunes e Tambarussi destacam o apoio da Auin nestes projetos, incluindo a obtenção de um novo microscópio para os estudos fitopatogênicos. “Estamos trabalhando para que a FCA seja uma referência na área, promovendo a formação de novos profissionais e contribuindo para o avanço do conhecimento científico do melhoramento na área agrícola e florestal”, finaliza o professor Evandro.