Por Priscila Campolim | Bolsista em Jornalismo Científico da Agência Unesp de Inovação
Imagem representativa da invenção (Foto/Reprodução)
Um grupo de pesquisadores da Unesp, em parceria com outras instituições de pesquisa, desenvolveu e patenteou um imunossensor capaz de detectar hemácias fetais, tendo potencial para o diagnóstico rápido da hemorragia feto-materna (HFM), uma condição que, em situações mais graves, pode colocar em risco a vida de gestantes e bebês. O dispositivo, que promete ser uma solução mais rápida e acessível do que os métodos tradicionais, foi registrado com o apoio da Agência Unesp de Inovação (AUIN) e está disponível para transferência de tecnologia.
A invenção surgiu a partir da pesquisa de mestrado e doutorado da bióloga Suelen de Souza Assunpção Nishio, sob a orientação das professoras Dra. Elenice Deffune, da Faculdade de Medicina de Botucatu, Dra. Marli Leite de Moraes, da Unifesp de São José dos Campos, e do professor Dr. Andrei Moroz da Unesp de Araraquara. O projeto, iniciado em 2017, foi motivado pela necessidade de um método mais ágil e preciso para detectar HFM, especialmente em situações emergenciais, onde o tempo de resposta pode ser crucial.
O que é a hemorragia feto-materna e os desafios do diagnóstico
A hemorragia feto-materna ocorre quando há ruptura da barreira placentária, causada por diversos fatores, permitindo a passagem de sangue fetal para a circulação materna. Essa transferência pode induzir a produção de anticorpos maternos contra as células fetais, levando a complicações graves, como a doença hemolítica perinatal, que pode resultar em morte fetal ou neonatal. Dessa forma, o diagnóstico precoce é essencial para prevenir desfechos adversos e garantir o adequado manejo clínico.
No entanto, os métodos tradicionais para diagnosticar HFM, como o teste de Kleihauer-Betke, apresentam desafios significativos: são demorados, dependem de laboratórios especializados e exigem análise humana criteriosa, o que pode retardar a intervenção médica em momentos críticos.
A inovação oferece uma alternativa mais eficiente, possibilitando que o diagnóstico seja feito em até cinco minutos com uma amostra mínima de sangue. Esse tempo de resposta reduzido pode ser decisivo para intervenções rápidas e seguras para mãe e bebê.
Como funciona o novo imunossensor
Imagem representativa da invenção (Foto/Reprodução)
O dispositivo utiliza a técnica "Layer-by-Layer" (LbL), que permite a deposição de camadas de materiais específicos, como a fibroína da seda e anticorpos monoclonais. Através de medidas de impedância elétrica em eletrodo interdigitado de ouro, é capaz de detectar hemácias fetais, predominantemente imaturas, como reticulócitos e eritroblastos, possibilitando a detecção dessas células no sangue materno de forma extremamente rápida e precisa.
A técnica LbL aplicada ao sensor permitiu a criação de um dispositivo portátil, simples de usar e de resposta rápida , ideal para o uso em locais de atendimento imediato, como salas de emergência e clínicas obstétricas.
O processo de patenteação e o apoio da AUIN
Para garantir que a inovação fosse protegida e pudesse ser transferida ao mercado, a equipe de pesquisadores contou com o suporte da Agência Unesp de Inovação (AUIN) durante todo o processo de registro da patente. O imunossensor possui patente depositada no INPI, e está disponível para a sua comercialização e uso em larga escala.
A pesquisadora Suelen Nishio, destacou que o suporte da AUIN foi crucial para a organização dos dados e para a formalização da patente. “O processo de patenteamento foi um desafio, pois ainda precisávamos completar alguns dados. Felizmente, contamos com o suporte da AUIN, que nos guiou por todo o processo”, relata Suelen.
O registro de patentes é um passo vital no processo de inovação tecnológica, pois assegura os direitos dos inventores e possibilita a transferência das tecnologias para o mercado. O imunossensor está disponível para empresas interessadas em licenciar a tecnologia e torná-la acessível ao sistema de saúde.
O impacto da inovação na área da saúde
O desenvolvimento desse imunossensor tem o potencial de impactar significativamente o diagnóstico e o manejo de HFM, especialmente em regiões com menos recursos ou em cenários de emergência. Sua portabilidade e rapidez fazem dele uma ferramenta essencial para maternidades, hospitais e clínicas, onde a capacidade de resposta rápida pode evitar complicações graves para a mãe e o bebê. Além disso, o custo reduzido do dispositivo em comparação aos métodos tradicionais pode torná-lo uma opção acessível para unidades de saúde pública.
Para o futuro, os pesquisadores esperam que a tecnologia possa ser expandida para outras aplicações no campo médico, como a detecção de outras condições que envolvem a presença de células fetais no sangue materno. A versatilidade do sensor e a possibilidade de personalização abrem portas para sua utilização em diversas áreas da medicina diagnóstica.
A patente do imunossensor é um marco importante para o avanço da biotecnologia médica no Brasil. A AUIN, ao apoiar iniciativas como esta, reafirma seu compromisso com a inovação e a transferência de tecnologia, conectando pesquisas acadêmicas a soluções reais que impactam positivamente a sociedade.